Radar do Mercado: Embraer (EMBR3) – Conversas com a Boeing aumentam fluxo especulativo no papel

A Embraer confirmou ontem (21) ao mercado que se encontra em tratativas com a Boeing em relação a uma potencial combinação de seus negócios, em bases que ainda estão sendo discutidas.

Entretanto, foi ressaltado que não há garantia de que qualquer transação resultará dessas discussões, e que a Boeing e a Embraer não pretendem fazer comentários adicionais sobre essas discussões.

“Qualquer transação estará sujeita à aprovação do Governo Brasileiro e dos órgãos reguladores, dos conselhos de administração das duas companhias e dos acionistas da Embraer”, ressaltou a companhia em seu comunicado.

 

O referido comunicado acerca de uma possível combinação entre as duas gigantes fabricantes de aeronaves influenciou de maneira direta o pregão de ontem, haja visto que as ações da Embraer – EMBR3 – fecharam o dia com uma alta de pouco mais de 22% apenas no dia de ontem.

Entretanto, é importante mencionar que, como a própria companhia brasileira mencionou, não há garantia de que qualquer transação resultará dessas discussões entre as partes, não passando essa notícia, em nossa opinião, de mais um ruído recorrentemente observado no mercado e que tende a influenciar de maneira direta os ânimos de muitos investidores.

Reflexo direto disso pode ser visto no gráfico acima.

Vale mencionar, ainda, que a informação sobre a possível união das companhias foi primeiramente noticiada pelo jornal The Wall Street Journal, e veio dois meses após a Airbus, rival europeia da Boeing, ter fechado acordo para adquirir uma parcela majoritária no programa de aviões regionais CSeries, da canadense Bombardier, rival direta dos jatos da Embraer.

Neste sentido, fontes de diversos portais de notícias reportaram que o governo brasileiro – que detém uma golden share na Embraer e que dá poder de veto sobre decisões estratégicas da companhia – informou que uma potencial venda do controle da Embraer “está totalmente fora de cogitação” e que as conversas entre Boeing e a fabricante brasileira estão “muito no começo”.

Assim sendo, enxergamos essa informação apenas como uma oportunidade de transação para especuladores, comportamento esse que não recomendamos aos investidores focados no longo prazo e simpatizantes da escola do Value Investing, preconizada por ninguém menos que Warren Buffett.

É importante lembrar que a Embraer é uma empresa que tem sede na cidade de São José dos Campos, interior São Paulo, e que atua na fabricação de aviões comerciais, executivos, agrícolas e militares.

Apesar de ser uma gigante brasileira com participação mundial no mercado de aeronaves, os seus resultados não vêm sendo consistentes nos últimos balanços trimestrais, haja visto que, no terceiro trimestre desse ano, de acordo com a companhia, no período foram entregues 25 aeronaves comerciais e 20 executivas (13 jatos leves e sete grandes).

Com isso, a receita líquida foi de R$ 4.144,7 milhões no 3T17, com queda de 16% em comparação ao 3T16, em função do menor número de entregas nos segmentos de Aviação Comercial e Executiva.

Dessa forma, no 3T17, a Embraer apresentou lucro líquido de R$ 351,0 milhões e lucro por ação de R$ 0,4773. O lucro líquido ajustado (excluindo-se os impostos diferidos e itens não recorrentes) no trimestre foi de R$ 237,9 milhões, representando um lucro por ação ajustado de R$ 0,3235.

É importante destacar, também, que a companhia encerrou o 3T17 com uma posição de dívida líquida de R$ 2.289,9 milhões, representando crescimento em relação à dívida líquida de R$ 2.188,5 milhões ao final do 2T17, principalmente em função do uso livre de caixa no período. Ademais, no final do trimestre, a companhia possuía um total de financiamentos da ordem de R$ 13.644,2 milhões, que representou uma queda de R$ 290,0 milhões em relação ao final do 2T17.

Recentemente, a companhia enviou ao mercado, também, uma estimativa de que espera entregar 85 a 95 jatos comerciais, e 105 a 125 jatos executivos, incluindo jatos executivos leves e grandes, no ano de 2018.

Dessa forma, a companhia destacou que as receitas totais devem ficar entre US$ 5,3 bilhões e US$ 6,0 bilhões e que espera atingir uma margem Ebit consolidada de 5,0% a 6,0% (equivalente a US$ 265 milhões a US$ 360 milhões) em 2018.

Segundo a companhia, como resultado das estimativas de receita e lucro operacional, assim como outros fatores como o nível de investimentos e capital de giro, a Embraer antecipa em 2018 um consumo de fluxo de caixa livre de no máximo US$ 150 milhões.

Preferimos, antes de mais nada, aguardar e procurar evidências de que as expectativas de quaisquer que sejam as companhias se provem viáveis no decorrer do tempo e, no caso da Embraer, seguiremos aguardando de fora qual será o andamento da empresa frente sua projeção para 2018 referenciada acima.

Ainda, apesar de ser uma gigante brasileira com participação mundial no mercado de aeronaves, pode-se perceber acima que os seus resultados não vêm sendo consistentes nos últimos balanços trimestrais, apresentando, inclusive, uma dívida líquida que, apesar de ter apresentado uma redução, ainda ultrapassa a barreira dos R$ 2 bilhões.

Dessa forma, mesmo entendendo que a Embraer pode ser sim considerada um orgulho nacional e uma importante companhia no que diz respeito ao sentimento de patriotismo do país, preferimos ficar de fora, num sentido geral, de empresas com dívidas consideráveis e pouca solidez nos resultados, conforme pudemos observar em seu balanço.

Por conta disso, preferimos seguir com nosso posicionamento de nos manter de fora da Embraer nesse momento.

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Tiago Reis
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