Jesse Livermore: o maior especulador da história

Não é novidade que não sou um apoiador de práticas especulativas. O que penso é baseado em fatos. Há cerca de 6 meses, trouxemos, no Suno Notícias, uma reportagem tratando a respeito da prática de day trade.

Essa matéria abordou os resultados dos estudos encomendados pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) à FGV (Fundação Getúlio Vargas), os quais indicam que mais de 90% das pessoas que tentam viver desta prática amargam prejuízos e poucos dos que persistem conseguem algum lucro, que também não é alto.

Não condeno a prática, mas ao mesmo tempo não a recomendo. Na minha visão, é uma atividade extremamente arriscada, uma vez que o curto prazo produz oscilações totalmente aleatórias. Se fosse tão fácil prever os movimentos com base em padrões, seria fácil fazer dinheiro dessa maneira e, por consequência, teríamos muitos casos de sucesso.

No entanto, os casos exemplares de sucesso em construção de patrimônio na Bolsa de Valores são baseados nos investimentos de longo prazo. Ao contrário da especulação, o investimento em valor é de baixo risco, pois trabalha-se com evidências, sem ficar à mercê das emoções do mercado. Ao invés disso, tira-se proveito delas.

Para ilustrar um pouco dos perigos das práticas especulativas, ao longo dos próximos dias, contarei sobre a vida de Jesse Livermore, considerado o mais famoso – talvez o primeiro famoso – especulador do mercado, e também considerado por muitos um dos maiores traders da história.

Quem foi Jesse Livermore?

Jesse Livermore nasceu e foi criado numa fazenda em Acton, Massachusetts, em 1877. Aos 14, ele saiu de casa, em direção a Boston, onde rapidamente conseguiu um emprego na Paine Webber, uma corretora de investimentos da época, ganhando 6 dólares por semana.

Enquanto aprendia sobre o mercado de ações, Livermore mantinha um diário, no qual anotava trades fictícios, com base nos movimentos reais do mercado.

Preciso introduzir um ponto importante da história: naquela época, existiam os chamados bucket shops, que eram locais nos quais especuladores – geralmente amadores – podiam fazer seus trades.

Nestes locais, as apostas eram feitas sem compra ou venda real dos papéis. Hoje, estas práticas são ilegais, violando uma série de leis e regulamentos.

Depois de um ano e meio de preparação com seu diário, Jesse visitou um destes bucket shops. Em sua primeira operação, utilizou 10 dólares e, em dois dias, embolsou US$ 3,12 em lucros. Seu sucesso foi imediato, de modo que, aos 17 anos, já havia acumulado um patrimônio de US$ 1200.

Jesse provou a sensação do sucesso e quis mais. Decidiu largar o emprego na Paine Webber e se tornar um especulador em tempo integral.

A cena mais comum em um bucket shop era a de indivíduos saindo sem nada nos bolsos. Por outro lado, os poucos que eram capazes de fazer dinheiro não o faziam por muito tempo sem que os donos do local percebessem e os banissem. Não queriam ninguém “quebrando a banca”.

Assim, Jesse se tornou uma vítima do próprio sucesso. Rapidamente, já não era mais bem-vindo em quaisquer bucket shops de Boston.

Livermore havia acumulado um certo patrimônio e alguns anos de experiência quando se viu forçado a deixar Boston, caso quisesse continuar suas atividades especulativas. Neste ponto, ele já havia sofrido sua primeira grande perda, algo que viria a se tornar um tema recorrente durante sua vida.

Banido dos bucket shops, Jesse Livermore vai para Nova York

O especulador deixou Boston e foi para Nova York em 1900, quando tinha 23 anos. No mesmo dia em que chegou à cidade, ele foi ao escritório da corretora Harris, Hutton & Company. Jesse depositou seus US$ 2.500 e ganhou um crédito que o permitia movimentar US$ 25.000 no mercado.

Naquele momento, as ações estavam em tendências favoráveis à sua estratégia, de modo que ele alcançou ganhos de US$ 50.000 em menos de uma semana. Mas a diferença entre o trading amador e o profissional só seria aprendida por ele um pouco mais tarde.

Nos bucket shops, vale ressaltar que os preços praticados diziam respeito aos preços em que as ações eram compradas e vendidas. Assim, não representavam o real preço momentâneo que era visto na Bolsa de Valores. Essa era a principal diferença entre o jogo amador e o jogo profissional.

Em maio de 1901, Jesse experienciou sua primeira grande perda como um especulador profissional.

Amanhã contarei mais uma parte da história, começando com os detalhes da primeira grande perda de Livermore no jogo dos profissionais.

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Tiago Reis
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