Análise qualitativa de uma empresa (Parte I)

A análise de empresas não é uma ciência exata. Por mais que existam uma série de cálculos por trás das diversas formas de se fazer um valuation, a análise não se resume a isso. Trata-se de um processo que deve levar em consideração vários fatores qualitativos.

Se você realmente deseja entender a fundo uma companhia, sua posição no mercado, suas vantagens competitivas, bem como suas perspectivas para o futuro, você deve fazer alguns questionamentos que focam diretamente em detalhes.

Christopher Browne era um famoso investidor adepto do investimento em valor. Não é à toa que ele também é autor do “The Little Book of Value Investing”. Em uma parte de seu livro, Browne elenca algumas questões que podem ser feitas para se obter insights que dizem respeito a informações que vão muito além da parte quantitativa.

Browne também ressalta, corroborando com o que eu disse no primeiro parágrafo: “Se o sucesso dos investimentos fosse simples como uma fórmula matemática, todos teriam portfólios vencedores”.

Neste Suno Call, apresentarei três de uma série de questões que o lendário investidor sugere, cujas respostas darão ao indivíduo um conhecimento mais profundo sobre a companhia e seu potencial como um investimento de sucesso.

1 – A companhia será capaz de aumentar seus preços?

Neste sentido, Browne diz que a companhia cujo produto possui alta demanda pode facilmente aumentar seus preços para gerar mais lucro. Assim, se os custos se mantêm os mesmos, o valor cobrado a mais irá direto para o bottom line, isto é, para o lucro líquido.

Por exemplo, a Philip Morris pôde, durante anos, aumentar o preço de seus cigarros quase sempre que quisesse. Assim também o pôde fazer, por muito tempo, a Harley Davidson, quando a demanda por suas motocicletas premium estava muito forte.

As companhias de tecnologia, por sua vez, passam por dificuldades mais significativas para aumentar seus preços dessa maneira. Isso se dá pelo ambiente altamente competitivo. O mesmo acontece com os negócios de varejo.

Adicionalmente, quanto menos competição houver em um setor, mais fácil será aumentar os preços.

2 – A companhia será capaz de vender mais unidades?

O autor aponta que um aumento de 10% nas unidades vendidas é capaz de aumentar em 10% os lucros brutos, caso a margem bruta não seja alterada. Trata-se do jeito mais simples de aumentar o bottom line. Isto é, assumindo que os custos se mantenham os mesmos, todo aumento do número de unidades vendidas aumenta o lucro líquido.

A Johnson & Johnson, por exemplo, sofreu uma queda, no começo dos anos 1990, devido ao receio quanto à reforma da saúde. No entanto, os fundamentos do negócio continuavam perfeitos. Isto é, basicamente, uma população envelhecendo ainda significava que seu volume de vendas deveria aumentar.

Por fim, Browne ressalta a importância de assegurar que o incremento de vendas não seja oriundo de incentivos.

3 – A companhia pode aumentar os lucros das vendas já existentes?

Caso não seja possível vender mais, é possível aumentar as margens, obtendo mais lucro sobre o que já está sendo vendido atualmente?

A companhia pode cortar custos ao alterar fornecedores ou outros fatores em sua cadeia logística? Segundo Christopher, o Wal-Mart, por exemplo, nunca hesita em mudar de fornecedores, se isso for capaz de trazer lucros extras que justifiquem a mudança.

Ela pode mudar seu mix de produtos para focar em linhas de negócios mais lucrativas? Em 2006, muitas gigantes do negócio de jornais, como o The New York Times, começaram a olhar para o lado do mundo digital, buscando impulsionar suas margens e receitas.

Também devem ser observadas com cautela as companhias que não podem controlar seus custos mais básicos. A título de ilustração deste caso, podemos citar as companhias aéreas, que possuem pouquíssimo controle sobre os custos do combustível.

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Tiago Reis
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