Copom: Entenda como as reuniões do Comitê impactam os investimentos
Você sabe o que faz o Copom? As decisões desse importante órgão do Banco Central afetam o valuation das empresas listadas na bolsa de valores.
E as reuniões do Copom são um evento muito aguardado por grande parte dos participantes do mercado.
o Comitê de Políticas Monetárias (Copom) é uma importante instituição dentro do mercado financeiro brasileiro. O Órgão diretamente relacionado com a política monetária do país, e é responsável por definir a meta da Taxa Selic e divulgar o Relatório de Inflação.
Assim sendo, entender as principais funções desse Comitê e sua importância dentro do Sistema Financeiro Nacional é fundamental para o investidor focado no longo prazo.
O que é o Copom
O Comitê de Política Monetária é o órgão do Banco Central (Bacen) que decide a política monetária que será adotada no Brasil.
O órgão é formado por membros do colegiado do Bacen, que, além do próprio presidente do Banco Central, ainda inclui oito diretores.
São eles:
- Diretor de Administração
- Diretor de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos
- Diretor de Fiscalização
- Diretor de Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações do Crédito Rural
- Diretor de Política Monetária
- Diretor de Política Econômica
- Diretor de Regulação
- Diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania
Como são oito diretores, então em caso de empate em alguma decisão do comitê, o presidente terá o voto de desempate.
História
Instituído em 20 de junho de 1996, o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil é um órgão muito relevante na economia.
E foi desenvolvido no intuito de se estabelecer as diretrizes da política monetária do Brasil e também definir a taxa básica de juros na economia. Taxa esta que serve de parâmetro para todas as operações financeiras do país.
Ainda, com a criação dessa instituição, ocorreu uma maior transparência e melhorias nos processos decisórios do Bacen (Banco Central).
De fato, a sua criação foi muito inspirada em modelos que na época já eram vigentes no restante do mundo.
Nos Estados Unidos, o equivalente do comitê brasileiro é o Federal Open Market Committee (FOMC), que é um órgão do banco central americano, o FED.
Na Alemanha, este órgão é chamado de Central Bank Council, que é ligado ao banco central alemão, o The Deutsche Bundesbank.
A tendência no mundo todo é a criação desse tipo de conselho.
Em 1998, o Banco Central da Inglaterra instituiu o Monetary Policy Committee, e o Banco Central Europeu também desenvolveu um órgão próprio após a criação da moeda única.
Funções
O Copom tem dois objetivos básicos, que são:
- O estabelecimento das diretrizes da política monetária
- A definição da meta para a taxa básica de juros (Selic) no Brasil e seu eventual viés
Para entender a segunda função do comitê, é necessário compreender o regime de metas de inflação, estabelecido em 1999.
Por esse regime, a principal função do Bacen é controlar a inflação, deixando-a oscilar em torno de um intervalo pré-determinado (bandas).
Para 2019, o centro da banda está estabelecido em 4,25%, podendo oscilar 1,5% para cima ou 1,5% para baixo ao redor deste valor.
Ou seja, na prática, o objetivo do banco central é manter a inflação entre 2,75% e 5,75%.
Como é possível notar no gráfico acima, o Bacen vem sendo bem-sucedido em controlar a inflação.
Exceto pelos anos de 2001, 2002, 2003 e 2015, a inflação sempre esteve dentro da banda estipulada pelo Bacen.
Já para 2020, o centro da banda foi estimulado em 4%, com bandas também de 1,5%.
Essas metas são sempre determinadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) com 2 anos de antecedência, sempre no mês de Junho.
Caso, por exemplo, a inflação saia dos limites da banda, então o presidente do Bacen deve enviar uma carta ao ministro da Fazenda.
Nesta carta devem constar justificativas e propostas para normalizar a inflação.
Reuniões do Copom
Talvez um dos eventos mais aguardados pelos investidores de ações, renda fixa, e outros ativos são as reuniões do Comitê de Política Monetária.
O Copom possui oito reuniões por ano, e com um intervalo de mais ou menos seis semanas, ou aproximadamente 45 dias.
Ainda, as dinâmicas das reuniões são representadas, costumeiramente, em dois dias, geralmente nas terças e nas quartas-feiras.
Mas caso ocorram alterações bruscas no cenário macroeconômico, o presidente do Bacen pode convocar uma reunião extraordinária.
Esse viés é um direito dado ao Presidente do Banco Central para alterar a meta da taxa Selic a qualquer momento entre as reuniões ordinárias.
Essas decisões, por sua vez, possuem um impacto enorme no mercado financeiro.
E isso ocorre pois os vieses influenciam de maneira direta as curvas de juros que precificam todas as operações do dia a dia financeiro.
Além dos membros do comitê, no primeiro dia também participam destas reuniões os chefes de sete departamentos do Bacen, que são:
- Departamento de Assuntos Internacionais (Derin)
- Departamento Econômico (Depec)
- Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep)
- Departamento de Operações Bancárias e de Sistemas de Pagamentos (Deban)
- Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab)
- Departamento de Relacionamento com Investidores e Estudos Especiais (Gerin)
- Departamento de Reservas Internacionais (Depin)
Neste dia também participam o Secretário-Executivo e o Assessor de Imprensa do Bacen.
No segundo dia, apenas os membros do Copom e o chefe do Depep participam da reunião.
1º dia de reunião
No turno da manhã no 1º dia de reunião, ocorre o evento chamado de Reunião de Mercado.
Nesta reunião são analisadas as conjunturas econômicas, juntamente com o desempenho, a produtividade, taxa de juros e inflação do país.
Neste evento, os chefes do Deban, Depin e Demab apresentam um relatório de cerca de 30 minutos sobre as condições dos mercados em que atuam.
Isto é, sistema bancário, reservas e operações no mercado aberto, respectivamente.
Já o turno da tarde é dedicado inteiramente à conjuntura da economia doméstica.
O chefe do Depec comenta sobre:
- Atividade econômica,
- Inflação
- Agregados monetários e de crédito
- Política fiscal
- Balança de pagamentos.
Já o chefe do Derin passa então uma visão sobre a conjuntura econômica internacional.
Por fim, o Gerin fornece a evolução das expectativas de mercado para inflação e outras variáveis importantes.
2º dia de reunião
Já no segundo dia, ocorre a votação a respeito da meta da taxa básica de juros.
Geralmente, nesses debates, são apresentadas as alternativas para a taxa de juros de curto prazo. Além é claro, as recomendações para a política monetária nacional.
Há de se destacar um detalhe importante.
Junto com a definição da taxa de juros, pode ser emitido, ainda, um viés, que pode ser tanto de baixa quanto de alta.
Esse viés é um direito dado ao Presidente do Banco Central para alterar a meta da taxa Selic a qualquer momento entre as reuniões ordinárias.
Vale destacar ainda que a taxa considerada para a política monetária é a Meta da taxa Selic.
Para que, de fato, a taxa de juros da economia se aproxime à meta, é importante uma atuação ativa do Bacen. Atuação esta que se dá através da mesa de operações no mercado aberto, comprando e vendendo títulos públicos.
Veja abaixo como essas duas taxas andam muito próximas:
Informações divulgadas
Assim que a reunião do segundo dia termina, a decisão do Copom é divulgada exclusivamente através do portal oficial do Bacen.
E a partir das 08:30 da terça-feira da semana seguinte à semana da reunião, é também divulgada a ata da reunião através do site do Bacen.
Como resultado dessas implementações, a transparência é muito grande.
E possível, hoje em dia, que qualquer pessoa tenha acesso às atas das reuniões do Copom através do portal na internet do Banco Central.
E isso, de maneira direta, contribui para que as empresas e investidores formem expectativas a respeito do cenário econômico nacional.
É um documento bastante interessante para o investidor que quiser entender a macroeconomia de uma forma bem clara e didática.
Além da ata, ao final de cada trimestre do ano, o Copom também publica um documento chamado de Relatório de Inflação.
Neste relatório é feita uma análise detalhada da economia no Brasil.
Além disso, também é apresentado um gráfico com projeções da inflação (IPCA) através de um leque de possibilidades.
Veja abaixo um exemplo destas projeções, quando a taxa de juros estava em 14,25% ao ano.
A linha mais escura (cenário de referência) do gráfico se refere a uma situação com taxa Selic e taxa de Câmbio constantes.
A influência do Comitê de Política Monetária nos Investimentos
A taxa básica de juros afeta diretamente a precificação de quase todos os ativos disponíveis para investimento.
E em última instância, o Comitê de Política Monetária tem um poder muito grande de interferir indiretamente no nível de preços praticados no mercado.
Para entender o efeito da variação da taxa Selic nas aplicações financeiras, é preciso discernimento.
Isto é, antes de mais nada, é preciso separar os investimentos de renda variável dos investimentos em renda fixa.
Na renda fixa pós-fixada ao CDI, por exemplo, um aumento da Selic irá fazer com que a rentabilidade do investidor também aumente.
Exemplos de ativos que podem ser pós-fixados:
- CDB
- RDB
- LCI
- LCA
- Debêntures
- LF
- CRI
- Tesouro Selic
- Fundos DI
Já na renda fixa pré-fixada ocorre o cenário oposto.
Caso o mercado espere que a Selic irá aumentar, e de fato isso ocorra, então esses títulos públicos irão desvalorizar.
Ou seja, títulos públicos como as Letras do Tesouro Nacional, assim como alguns tipos de Debêntures e CDBs, tendem a desvalorizar nesta situação.
Mesmo papéis sem liquidez desvalorizam.
E se o investidor precisar utilizar o serviços da corretora para achar um comprador, poderá ter um deságio grande.
E o oposto das situações mencionadas acima ocorre quando a Selic diminue de patamar.
Veja, portanto, que as decisões do Comitê de Política Monetária são muito importantes para a economia.
Além disso, também possuem um impacto enorme no mercado financeiro.
O motivo disso é que os vieses influenciam de maneira direta as curvas de juros que precificam todas as operações do dia a dia financeiro.
Influência da Selic na Renda Variável
A definição da meta da Taxa Selic também afeta os investimentos em renda variável.
E o movimento segue a mesma direção dos títulos pós-fixados da renda fixa.
Quando se fala em modelos de valuation através do Fluxo de Caixa Descontado, a taxa Selic é um dos componentes do modelo.
Portanto, quanto maior for essa taxa de desconto, menores serão as estimativas de valor justo das empresas.
Por esse motivo, o mercado precifica para baixo os preços das ações.
Muitos investidores ficam preocupados e vendem suas ações. Descubra no vídeo abaixo porque Luiz Barsi não vende suas ações:
Já nos fundos imobiliários (FII), por exemplo, ainda que esta mesma lógica acima se aplique, na prática, é um pouco diferente.
O que acontece é que muitos investidores comparam o Yield gerado pelos fundos imobiliários com a taxa de juros da renda fixa.
Assim, se a Selic sobe, o preço dos títulos deve recuar para que o Yield aumente e se equipare com o retorno da renda fixa.
Essa comparação é teoricamente errada de ser feita, pois se está comparando renda fixa com renda variável.
Entretanto, o mercado de FII vem funcionando assim desta maneira.
É o motivo é o perfil de renda do investidor pessoa física, que é a maioria neste mercado.
Taxa Selic e resultados das empresas
A Selic também afeta os resultados das empresas diretamente, em algumas mais e em outras menos.
Por exemplo, toda as companhias carregam consigo posições de caixa em aplicações de alta liquidez, geralmente pós-fixadas.
Dessa forma, quando a Selic sobe, o resultado financeiro dessas empresas melhora.
Para algumas empresas, como de seguros, fidelidade e bancos, o resultado financeiro é bastante relevante frente ao resultado operacional.
E neste caso, uma queda da Selic afeta diretamente os lucros da empresa.
Em 2017, por exemplo, a Selic média caiu 47%, e isso fez com que várias empresas, em 2018, apresentassem resultados mais fracos.
No caso dos bancos, a taxa de juros é um grande balizador das operações de crédito, assim como a remuneração paga aos depositantes da instituição.
Conclusão sobre o Copom
Ficou possível perceber que o Copom é um órgão de extrema importância dentro do sistema financeiro nacional. As reuniões do Comitê também são muito importantes. E possuem uma capacidade muito alta de alterar de maneira direta e indireta muitos dos parâmetros da economia. E que direcionam a maioria dos rumos e também a grande maioria dos mais diversos tipos de investimentos presentes no Brasil.