Elasticidade: o que é e como analisar esse aspecto econômico?
A elasticidade é um dos conceitos mais básicos da economia, afetando diretamente a precificação das empresas sobre seus produtos.
A elasticidade faz parte do campo da microeconomia, e é crucial conhecer este conceito, assim como as suas consequências.
O que é elasticidade?
Elasticidade é o percentual que uma variável oscila em decorrência da oscilação de uma outra variável. Uma variável é um valor que pode mudar. Ou seja, a elasticidade é um valor que varia em função de um outro valor.
Na economia, este conceito diz respeito à quanto de variação na demanda ocorrerá em face a uma variação no preço de um determinado produto.
A gestão de uma empresa trabalha, intensamente, para descobrir o melhor patamar de precificação do seu produto.
Dessa forma, o patamar mais bem precificado será aquele que trará maior lucratividade à empresa.
Portanto, conhecer este conceito é fundamenta, não apenas para a gestão de uma empresa, mas também para o investidor.
Como calcular a elasticidade?
A elasticidade pode ser calculada através de uma simples equação matemática. Ainda que conceitos matemáticos estejam envolvidos, não é nada de grande complexidade.
A fórmula da elasticidade é a seguinte:
Como visto, essa equação representa a variação da demanda em função de uma variação no preço.
- ΔQ = quantidade demandada final menos a inicial
- ΔP = preço final menos o inicial.
- Q = quantidade inicial.
- P = preço inicial
- e = elasticidade
A elasticidade também pode ser calculada dividindo as variações pelas médias das quantidades e preços finais.
As pessoas consomem mais quando o preço de um bem é menor. Ou seja: as pessoas, normalmente, apresentam uma inclinação na demanda negativa para os bens.
Como a elasticidade funciona?
Para entender em detalhes do conceito de elasticidade, é possível fazer uso de alguns exemplos que deixarão sua aplicação mais clara.
Portanto, é possível fazer uso de um exemplo: alguém vai ao shopping para comprar uma camisa, e está disposto a gastar R$ 100,00.
Porém, se a camisa custar R$100,00, ela irá comprar apenas uma, se custar R$50,00 comprará duas, se custar R$25,00 comprará quatro, e assim por diante.
Outro exemplo: alguém vai a um restaurante e deseja tomar um vinho durante seu jantar, mas antes gostaria de saber o preço.
O comportamento normal é que, conforme a taça reduza de preço, o consumidor adquira cada vez mais taças.
Portanto, se a taça custar R$90,00, talvez ele opte por consumir apenas uma. Se custar R$ 45,00 por consumir duas, e se custar R$ 30,00, três taças.
Sendo assim, uma redução no preço aumenta a quantidade demandada, enquanto o aumento do preço reduz a quantidade demandada, como fica claro no gráfico abaixo:
Bens elásticos vs Bens inelásticos
Nem todos os bens possuem a característica de elasticidade. Por isso, é necessário entender os conceitos de bens elásticos e bens inelásticos.
1. Bens elásticos
Como foi visto anteriormente, o conceito de bens elásticos e inelásticos mensura a variação da demanda para uma determinada variação do preço.
Bens elásticos são bens que possuem elasticidade maior que 1. Ou seja, a variação na demanda é maior do que a variação do preço.
Portanto, um aumento no preço de 10% para um produto elástico, causará uma diminuição na quantidade demandada maior do que 10% para este mesmo produto.
Por exemplo: o kg da picanha custava R$ 10,00 e sua quantidade demandada era de 20kg.
Quando o preço se elevou a R$ 12,00 a quantidade demandada reduziu-se a apenas 10kg. Qual seria a elasticidade preço da demanda da picanha?
- Elasticidade = (10 – 20 / 20) / (12 – 10 / 10) = (-10 / 20) / (2 / 10) = – 2,50.
Para o cálculo da elasticidade, considera-se apenas o módulo, pois para todo aumento de preço em bens normais, há uma redução da quantidade demandada.
O sinal negativo serve apenas para representar está correlação negativa. Portanto, como 2,50 > 1, a picanha é um bem elástico.
Isto fica claro, pois enquanto preço se elevou em apenas 20%, a quantidade demandada se reduziu à metade do que era antes.
Ou seja, uma variação no preço causou uma variação maior na quantidade demandada.
Da mesma forma que aumentos nos preços de bens elásticos causam uma redução mais forte na quantidade demandada, diminuições no preço causam um maior aumento de quantidade demandada.
Ou seja, uma redução no preço em 10% causará um aumento na quantidade demandada maior que 10%.
No entanto, conforme uma empresa reduz os seus preços, os seus concorrentes também farão o mesmo.
Dessa forma, irá ocorrer, no longo prazo, uma queda de lucratividade e diminuição de margens para as empresas do setor.
2. Bens inelásticos
Bens inelásticos são o oposto dos bens elásticos. Ou seja: uma variação no preço causa uma resposta menor na quantidade demandada (tanto para o aumento quanto redução).
Por exemplo: uma empresa de seguros de saúde elevou o preço de seus planos em 50%, saindo de R$ 100,00 para R$ 150,00.
A quantidade demandada, que anteriormente era de 100 pessoas, passou a ser de 90 pessoas. Qual é a elasticidade dos planos de saúde, e que tipo de bem é ele?
- Elasticidade = (90 – 100 / 100) / (150 – 100 / 100) = (-10 / 100) / (50 / 100) = – 0,2.
Ou seja, um aumento de 1% no preço causa uma redução de apenas 0,2% na quantidade demandada.
Por sua vez, um aumento de 50% no preço causa uma redução de 10% na quantidade demandada.
Portanto, este é um bem inelástico, pois o módulo de sua elasticidade é menor que 1, e variações no preço tem efeito reduzido na quantidade demandada.
Produzir bens inelásticos pode ser interpretado como uma ótima notícia para as empresas.
De fato, elas podem aumentar o preço de seus produtos e elevar a sua lucratividade, já que a diminuição na demanda será menor que o aumento do preço.
Assim, a empresa além de elevar o seu lucro, eleva suas margens de lucratividade.
Da mesma forma, reduções no preço de bens inelásticos causam um aumento menor, em relação ao preço, na quantidade demanda.
Portanto, não faz sentindo para estas empresas diminuírem os seus preços, pois o aumento na quantidade demandada não é o suficiente para compensá-lo, e ainda ocorreria queda de margens de lucro da empresa.
Fatores que afetam a elasticidade
Existem alguns fatores principais que afetam a elasticidade dos bens na economia:
- Existência de bens substitutos
- Tempo
- Participação no orçamento
Abaixo, será possível verificar uma explicação de cada uma dessas variáveis:
1. Bens substitutos
É bastante intuitivo o porquê de existência ou não de bens substitutos poder definir se o bem é elástico ou inelástico.
Por exemplo: alguém vai ao mercado comprar carne, mas o preço do kg da carne está muito caro.
Portanto, é possível optar por um dentre os vários substitutos próximos da carne, como outras carnes mais baratas ou até mesmo o frango.
Sendo assim, a existência de bens substitutos próximos fará com que alterações no preço afetem bastante a quantidade demandada.
Também é possível aplicar este conceito a carros comuns: tipicamente, carros possuem concorrentes diretos, com características bastante similares.
Caso o comprador queira um carro modelo SUV, se o modelo de marcar X estiver mais caro, é possível optar pelo modelo da marca Y.
Portanto, novamente, alterações no preço causarão forte redução na quantidade demandada.
Por outro lado, a inexistência de bens substitutos é uma característica de bens inelásticos.
Por exemplo: a existência de um remédio que é produzido por apenas um laboratório.
Se o preço deste remédio aumentar, não haverá outra opção se não a de continuar a consumir este remédio por um preço mais elevado, pois é uma questão de saúde.
Sendo assim, a ausência de substitutos próximos faz com que aumentos de preço não causem fortes reduções na quantidade demandada.
2. Tempo
Conforme o tempo decorrido da alteração do preço aumenta, o consumidor passa a ter mais alternativas para substituir um determinado bem, e a sua elasticidade tende a aumentar.
Por exemplo, energia é um produto consideravelmente inelástico, pois não há muitos substitutos próximos.
Se a energia, hoje sofrer um grande aumento do preço, é possível seguir a vida normalmente nas próximas semanas ou meses, demandando a mesma quantidade de energia.
No entanto, ao longo do tempo, é possível que as pessoas comecem a pensar em soluções. Como, por exemplo, instalar painéis de energia solar.
Outro exemplo de como o tempo afeta a elasticidade ocorre com combustíveis. Um aumento no preço de combustíveis, geralmente, no curto prazo, não alteram a quantidade demandada da população por este bem.
No entanto, no longo prazo, a quantidade demandada pode alterar conforme as pessoas pensam em soluções para o aumento do preço.
Como, por exemplo, utilizar o transporte público, aplicativos como o Uber, ou fazer uso de um sistema de caronas.
3. Participação no orçamento
A participação no orçamento é outro fator determinante sobre a elasticidade e inelasticidade um bem.
Por exemplo: o preço do quilo de sal dobrou. O preço de qualquer produto dobrar é um aumento bastante considerável.
No entanto, como este bem responde a apenas uma pequena parcela no orçamento da maioria das pessoas, é normal que sua quantidade demandada não se altere de forma relevante.
Agora, é possível imaginar o caso oposto: um apartamento à venda dobrou de preço. Nesse caso, a quantidade demandada certamente irá mudar.
Isso ocorre pois a casa própria é um bem com uma participação muito relevante em um orçamento, portanto, a sensibilidade a mudanças de preço será maior para esse bem.
Aplicando a elasticidade aos investimentos
É possível aplicar o conceito de elasticidade aos investimentos, especialmente quando se faz uma análise fundamentalista da empresa.
Obviamente, para o investidor, é muito melhor que a empresa produza bens com demanda inelástica.
Dessa forma, a empresa pode aumentar o preço de seus produtos sem que a quantidade demanda reduza de forma excessiva.
Isto acarreta aumento de lucro e também de margens de lucratividade.
Além disso, se o bem é inelástico, isso indica que, na visão do consumidor, não há substitutos próximos para o produto de sua empresa.
Ou seja, a empresa possui uma clara vantagem competitiva. Empresas que conseguem aumentar o preço dos seus produtos sem que a quantidade demandada se reduza são, geralmente, empresas de sucesso.
Por outro lado, se uma empresa produz um bem extremamente elástico pode ser mais difícil para ela obter sucesso.
Dessa forma, a empresa não irá conseguir aumentar o preço pago pelo consumidor sem que haja forte redução da quantidade demandada.
Além disso, é comum para empresas que produzam bens elásticos que existam vários substitutos próximos, portanto, um ambiente de concorrência muito feroz. Isto causa diminuição dos lucros e das margens da empresa.
Desta forma, é inteligente que o investidor procure empresas que possuem uma demanda cativa e inelástica sobre os seus produtos.
Um exemplo de empresa assim é a Apple. A companhia é conhecida por ter os seus produtos com preços elevados, no entanto, ainda assim, encontra uma demanda cativa pelos seus aparelhos.
Por isto, a companhia tem se provado um ótimo investimento ao longo do tempo.
Outros tipos de elasticidade
O presente artigo trata da elasticidade preço da demanda. No entanto, existem uma série de outros tipos de elasticidade:
- Elasticidade Renda
- Elasticidade Preço da oferta
- Elasticidade Cruzada da demanda
1. Renda
A elasticidade renda mede a variação na quantidade demandada conforme a variação da renda de um consumidor.
Os bens podem, de acordo com a elasticidade renda, serem classificados em bens normais ou bens inferiores.
Bens normais são aqueles os quais a quantidade demanda aumenta conforme a renda aumenta, como, por exemplo, aparelhos eletrônicos.
Já bens inferiores são aqueles que conforme a renda aumenta, a quantidade demandada se reduz, como, por exemplo, passagens de ônibus.
2. Preço da oferta
A elasticidade preço da oferta mede a variação na oferta de um produto conforme a variação no preço deste produto.
Ou seja, essa medição verifica o quão sensível é a oferta em relação às variações no preço. Normalmente, quanto maior o preço de um produto, maior será a quantidade ofertada do mesmo.
A oferta elástica ocorrerá quando o aumento na quantidade ofertada for maior que a variação do preço, e a oferta rígida ocorrerá quando o contrário ocorrer.
3. Cruzada da demanda
A elasticidade cruzada da demanda mede a variação na quantidade demandada de um bem de acordo com a variação do preço de outros bens.
Entretanto, os bens podem, de acordo com a elasticidade cruzada, serem considerados complementares ou substitutos.
Primeiramente, bens complementares são aqueles que, um aumento no preço de um bem, causa redução na quantidade demandada do outro bem — como, por exemplo, café e açúcar.
Em segundo lugar, bens substitutos são aqueles os quais o aumento do preço de um bem, causa aumento na quantidade demandada de outro bem — como, por exemplo, carne e frango.
A importância da elasticidade na análise econômica
O conceito de elasticidade é muito importante para a economia, mais especificamente, para o campo da microeconomia.
O entendimento desse conceito pode ser fundamental tanto para o dono de um negócio quanto para um investidor que quer analisar mais profundamente as empresas nas quais investe.
Além disso, este conceito possui aplicações diretas e pode ser observado durante o dia a dia das pessoas.
Entender a diferença entre elasticidade e inelasticidade é fundamental na hora de se avaliar um negócio.
A produção de bens inelásticos pode ser um indicador de vantagens competitivas para empresas, enquanto bens elásticos podem indicar um ambiente concorrencial forte.
Portanto, é crucial que o investidor tenha boa noção de elasticidade ao considerar as empresas nas quais vai investir.
Ainda restou mais alguma dúvida a respeito do conceito de elasticidade? Comente abaixo.