O INVESTIMENTO EM VALOR E AS BOLHAS ECONÔMICAS

No Suno Call de ontem, abordei a primeira bolha da qual se tem conhecimento na história, a bolha das tulipas. Após escrever aquele texto, refleti sobre o comportamento que verdadeiros investidores em valor teriam diante de uma situação assim.

Um verdadeiro investidor em valor dará ênfase aos ativos financeiros, que produzem fluxos de caixa e, portanto, possuem valor intrínseco.

Além disso, tratará prospectos de crescimento de lucros com ceticismo ao analisá-los. Tudo isso pautado no entendimento da dinâmica econômica de um mercado competitivo.

Podemos lançar mão de um exemplo geral para mostrar a abordagem do investimento em valor na prática:

À época da bolha das “ponto com”, como estimar o valor da Internet para as empresas consolidadas e para as novas empresas de tecnologia?

Muitos enfatizavam veementemente – na época da bolha – que o principal impacto da Internet se daria na produtividade.

Discorriam sobre a capacidade extraordinária de se realizar um volume de trabalho muito maior em pouco tempo, uma vez que haveria muito mais informação disponível a um clique de distância, implicando ganhos excelentes decorrentes da produtividade elevada.

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No entanto, nem todos se davam conta de que produtividade não é sinônimo de lucratividade. Os lucros, por sua vez, constituem um fator que têm forte influência no preço das ações.

Veja: com todas as empresas usufruindo do acesso à Internet, pela lógica proposta, a produtividade de todas aumentaria. Certo?

Entretanto, com o aumento da produtividade, os custos de todas as companhias também cairiam, já que o mesmo trabalhador seria capaz de produzir mais em menos tempo.

Numa economia competitiva, isso provavelmente significaria queda nos preços, minando o aumento de lucro inicialmente assumido por muitos como verdade.

É possível observar claramente a queda de preços de serviços ou produtos devido à competitividade exagerada, como é o caso do setor de adquirência e de aviação comercial.

No caso da aviação, graças à Internet, os clientes podem facilmente buscar tarifas mais baratas, rotas mais convenientes, bem como “regalias” extras como lanches a bordo.

A baixa fidelidade dos clientes às marcas faz com que busquem apenas pela ótica dos preços, forçando as companhias aéreas a competirem neste aspecto. Neste cenário, apenas as empresas que apresentassem vantagens competitivas sólidas pautadas no uso da Internet seriam capazes de auferir tais lucros extraordinários.

Cabe ressaltar que o fato de os consumidores também possuírem acesso à Internet contribui para que também tenham acesso rápido e barato a qualquer tipo de informação, assim como as próprias empresas. Isso acaba por promover uma competitividade mais intensa por melhores preços e produtos oferecidos ao mercado.

VALUATION PRECIFICACAO DE ATIVOS

Assim, terminando este exemplo, é possível afirmar que a Internet pode ser tanto responsável pelo aumento de produtividade quanto pelo crescimento da competitividade.

Investidores de valor que entendessem o cenário econômico atrelado à competição exagerada, e mantivessem o racional comentado no segundo parágrafo teriam maiores chances de evitar a bolha da Internet.

Acredito que o debate deste tema seja de grande valia para mostrar a importância de se ater aos princípios do investimento, buscando realizar as tomadas de decisão em momentos de racionalidade e com base em análises sólidas.

Portanto, o investidor não deve se deixar levar pelo desejo de enriquecimento rápido, que é capaz de despertar emoções que levam a investimentos irracionais em momentos de bolhas econômicas.

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Tiago Reis
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