O Sr. Mercado

Lendo sobre o mercado financeiro, você provavelmente já se deparou com o Sr. Mercado ou, como referido com maior frequência, o Mr. Market. Muitas pessoas têm dificuldade em compreender o funcionamento do mercado de ações e os motivos da precificação dos ativos nem sempre estar correta.

Graças às modernas teorias financeiras (teoria do mercado eficiente e teoria moderna do portfólio), somos ensinados que o mercado precifica os ativos corretamente, pois todas as informações sobre a companhia estão disponíveis para quem tiver interesse. Infelizmente, estas teorias se baseiam no princípio de que o ser humano é racional e que, deste modo, não age segundo suas emoções quando se trata do mercado de capitais.

Todos sabemos que isso não é verdade. Grande parte dos agentes de mercado agem com interesses distintos e muitos deles o fazem sob pressão extrema, o que elimina a racionalidade de sua tomada de decisão. Isso faz com que o mercado nem sempre precifique os ativos de maneira correta, principalmente em momentos de grande euforia ou depressão econômica.

Em março de 1972, quando palestrava na Northeast Missouri State University Business School, Benjamin Graham foi questionado sobre o que impedia que a maioria dos investidores obtivessem sucesso. Em resposta, Graham afirmou que “a principal causa do fracasso é que eles prestam muita atenção no que o mercado de ações está fazendo atualmente”. Ao fazê-lo, o investidor passa a seguir o mercado e perde sua grande vantagem, a capacidade de pensar por si mesmo.

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Para explicar de maneira simplificada os movimentos do mercado, Benjamin Graham fez uma analogia fantástica, em seu livro The Intelligent Investor, publicado em 1949. Graham criou o Sr. Mercado.

Imagine que você possui uma pequena participação em uma empresa privada que possui outro sócio, o Sr. Mercado. Este indivíduo é um investidor repleto de emoções, cujas decisões de investimento são fortemente impactadas por seu humor.

Todos os dias úteis, o Sr. Mercado vai até seu escritório e lhe oferece uma proposta. Nela, está contido um preço em que o seu sócio estaria disposto a comprar sua participação ou vender a dele. Na maior parte das vezes, quando o humor do Sr. Mercado está controlado, a oferta é condizente com o real valor da empresa. Entretanto, quando o Sr. Mercado está eufórico ou descrente com o futuro, a proposta apresenta preços bastante distorcidos.

Todos os dias você tem a opção de fazer negócios com o Sr. Mercado, caso julgue que a proposta é interessante. Se o Sr. Mercado está deprimido, ele estará disposto a te vender a participação dele por um preço bastante atraente, com um desconto significativo para o valor intrínseco da empresa.

Por outro lado, quando o Sr. Mercado está confiante com o futuro, ele te propõe preços extremamente elevados e, por consequência, muito acima do valor intrínseco da empresa.

O investidor inteligente utiliza o humor do Sr. Mercado a seu favor. Quando o Sr. Mercado está confiante demais, o investidor inteligente vende sua participação por preços que não seriam possíveis sem tamanha euforia. De forma similar, quando o Sr. Mercado está deprimido, ele oferece sua participação por um preço extremamente descontado, o que leva o investidor inteligente a adquirir a participação.

Este ponto parece óbvio, entretanto, muitas vezes o ser humano não consegue ter o controle emocional necessário para agir contra o Sr. Mercado. Como disse Benjamin Graham, a maioria dos investidores fracassa por seguir o mercado.

Em momentos de alta, quando o Sr. Mercado está eufórico e pagando mais do que as empresas valem, os investidores tendem a seguir os conselhos do Sr. Mercado e comprar participação em empresas por um preço excessivo.

Por outro lado, quando o Sr. Mercado está deprimido, os investidores ficam temerosos em perder seu dinheiro e acabam vendendo sua participação a preços extremamente descontados. Essa atitude baseada em emoções acaba levando o investidor comum a performar muito aquém dos objetivos planejados.

Segundo um levantamento realizado pelo J.P. Morgan, o investidor médio obteve uma rentabilidade de 1,9% ao ano nos últimos 20 anos, enquanto o S&P 500 entregou o triplo desta rentabilidade no mesmo período.

Temos de agir de maneira racional para não cair na tentação de seguir o Sr. Mercado. Assim, o investidor inteligente consegue superar em muito a rentabilidade que o mercado traz, através da escolha racional dos ativos que possuem boas perspectivas futuras e estão sendo negociados a preços interessantes, com grande desconto para o valor intrínseco.

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Tiago Reis
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