O turbocompressor e os juros compostos

O mecânico levanta o automóvel com um macaco hidráulico, remove as bandejas inferiores da suspensão dianteira, desloca o suporte do eixo motriz em alguns centímetros para poder retirar o alternador que – após 140 mil quilômetros de serviços bem prestados – parou de recarregar a bateria. Feito o diagnóstico, ele troca os rolamentos do componente e retifica outras partes acessórias. A remontagem do conjunto consome algumas horas de trabalho.

O dono do veículo, investidor recorrente na Bolsa de São Paulo, fica impressionado com a habilidade do mecânico para fazer o conserto, pois considera o serviço complexo demais. Ao efetuar o pagamento do serviço, ele pergunta se o proprietário da oficina investe seu dinheiro poupado no mês em renda variável, já esperando a responda:

– De jeito nenhum. Isso é muito complicado.

Não são apenas os mecânicos que têm esse pensamento na ponta da língua: médicos que realizam pontes de safena em pacientes infartados; arquitetas que desenvolvem projetos considerando mais de quatro mil itens numa obra; engenheiros que calculam barragens de usinas hidrelétricas; advogadas que dominam códigos com milhares de leis – a lista seria longa e todos estes profissionais fazem coisas bem mais complexas que investir em ações de empresas pagadoras de dividendos e cotas de fundos imobiliários.

Mas vamos nos ater ao caso do mecânico, pois se muita gente não deseja ter uma oficina, ao menos aprecia o assunto em função do entusiasmo por carro – este símbolo do século 20 convertido em vilão das grandes cidades no século 21.

A economia do planeta girou em torno do motor a combustão nos últimos 130 anos, desde que os automóveis começaram a circular pelas cidades e estradas. Os combustíveis mais usados desde então são derivados do petróleo: gasolina, diesel e querosene de aviação.

O Brasil introduziu o álcool metílico na história sem alterar o princípio do motor, que basicamente mistura o combustível com o ar atmosférico em cilindros casados com pistões. Faíscas originadas por velas acopladas aos cilindros promovem a explosão da mistura, impulsionando os pistões para fora dos cilindros, fazendo girar uma manivela conectada ao eixo motriz, que faz o veículo andar – no caso dos aviões, a manivela é ligada à hélice ou turbina. No momento em que o pistão aumenta o volume oco do cilindro, ele puxa o ar atmosférico, cujo oxigênio se encontrará com mais combustível para repetir o processo.

Os resultados das explosões provocadas pelas ignições das velas são gases superaquecidos que seguem para o escapamento e passam pelo silencioso antes de ganhar o meio ambiente. Em motores convencionais, ou aspirados, o potencial de energia dos gases no escapamento é completamente desperdiçado.

Aqui entra em voga uma das grandes invenções da engenharia mecânica após o advento do automóvel: o turbocompressor. Em linhas gerais seu princípio é aproveitar os gases das explosões do motor para retroalimentar o sistema.

– Como isso é possível?

Os gases que passam pelo escapamento, em alta velocidade e temperatura elevada, são coletados para girar uma turbina ligada por eixo a um rotor que atua como compressor centrífugo, capturando e comprimindo o ar atmosférico para aumentar a quantidade de oxigênio na admissão dos cilindros.

Deste modo, com o mesmo volume de combustível é possível aumentar a potência e o torque do motor, proporcionando maior aceleração e velocidade final ao veículo em questão. O advento do turbocompressor permite que aviões alcancem altitudes mais elevadas, onde o ar é mais rarefeito.

Para termos uma noção sobre a diferença de desempenho entre motores aspirados e motores turbinados, podemos voltar no tempo, na década de 1980, quando motores com turbocompressor eram permitidos na Fórmula 1: somente as equipes que usavam motores turbinados tinham chance de vitória. Numa temporada os organizadores do campeonato chegaram a separar as pontuações para premiar também as equipes menores, com motores aspirados.

Se levarmos estes conceitos para o ambiente das finanças, veremos que existem investidores acelerando motores aspirados, colocando apenas o dinheiro do bolso no sistema, economizado mensalmente parte da renda obtida num trabalho ou empreendimento para alocar recursos em produtos de renda fixa.

Já os investidores que despejam potência em motores turbinados, usam o próprio sistema para realimentar a máquina, valendo-se da renda passiva somada à renda obtida por conta própria, para turbinar seus aportes mensais – obviamente em ativos de renda variável. O capital comprimido no mesmo aporte aumenta o torque e a tração do retorno sobre o investimento.

Quem compra com regularidade ações de empresas que distribuem dividendos, e cotas de fundos imobiliários, aumenta a renda passiva mensal gradativamente, como se estivesse aproveitando os gases resultantes das explosões do motor para aumentar o desempenho dele mesmo. Eis a força motriz dos juros compostos possibilitando as chances de vitória ao final da longa corrida.

Você não precisa fazer um curso de mecânica automotiva para consertar o próprio carro, mas é altamente recomendável que você estude cada vez mais sobre a mecânica dos investimentos, visando alçar voos cada vez mais altos, onde o ar é mais rarefeito, mas a velocidade é de cruzeiro.

A boa notícia é que você pode comandar perfeitamente os rumos dos seus investimentos. Para tanto, conte com o suporte de uma casa independente de análises no mercado financeiro, como a Suno Research, que além da Assinatura Premium oferece ao investidor que deseja turbinar seus resultados uma crescente coleção de livros relacionados ao poder dos juros compostos.

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Jean Tosetto
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