Política Monetária: importante parâmetro que influencia nossa economia
Dentro da conjuntura econômica brasileira, a política monetária representa um papel de fundamental importância para o desenvolvimento da estrutura financeira do país.
Mesmo possuindo uma alta parcela de representatividade no dia-a-dia dos brasileiros no âmbito de suas finanças pessoais, muitas pessoas ainda não sabem, de fato, do que se trata a política monetária.
O que é a política monetária?
A política monetária é o conjunto de medidas que um governo adota e que visa o controle da oferta da sua moeda na economia, ou seja, a sua liquidez.
Dessa maneira, esse tipo de política praticada pelo Estado tem o poder de impactar diretamente a inflação e a taxa de juros de um país. E assim, impactar diretamente a economia.
Durante a história moderna, os países sempre se utilizaram da política monetária para gerir a economia.
Ela é, inclusive, importante para conter e superar crises. No entanto, pode-se afirmar até que, se utilizada incorretamente, a política monetária pode causa crises.
No Brasil, por exemplo, algumas crises foram atribuídas à más administrações no que diz respeito à política monetária.
Para gerir a economia de um país, as autoridades se utilizam de uma série de instrumentos de política monetária.
Pode-se dividir ela em dois grandes grupos: a política monetária restritiva e a política monetária expansionista.
Veremos tudo em detalhes ao longo deste texto.
- Instrumentos de política monetária
- Política monetária restritiva
- Política monetária expansionista
- Exemplo de política monetária
- Perguntas e respostas sobre política monetária
- Conclusão
Principais Instrumentos de Política Monetária
Existem, basicamente, três principais tipos de instrumentos usados no Brasil através da sua política monetária. São eles:
- Open market;
- Redesconto;
- Depósito compulsório.
Open Market
É o mercado aberto onde os bancos realizam operações de compra e venda de títulos públicos federais.
Assim, o Governo pode atuar nesse mercado, através do Banco Central, comprando e vendendo títulos públicos federais.
Vale mencionar que este é o instrumento mais ágil e eficaz e, por isso, normalmente gera impactos no curto prazo.
Quando o governo compra títulos, eles está inserindo moeda na economia, e assim incentivando a política expansionista.
O oposto ocorre quando há a venda de títulos. Ao ser efetuada a venda, é retirada moeda da economia e trocada em forma de títulos.
Por isso, a venda é utilizada para reduzir a liquidez de uma economia, e faz parte da política restritiva.
Através do Tesouro Direto, é possível comprar os títulos vendidos pelo Tesouro Nacional.
Taxa de Redesconto
A taxa de redesconto é uma espécie de empréstimo do Banco Central para as instituições financeiras.
O Banco Central, por essa razão, é conhecido como o “banco dos bancos”.
Caso as mesmas estejam em situação de baixa liquidez em determinado momento, ele pode apresentar um caráter punitivo, sendo cobrado dos bancos uma taxa acima da utilizada no mercado.
Já caso o empréstimo seja feito utilizando-se uma taxa inferior à do mercado, este empréstimo possui um caráter estimulante. Ele pode ainda ser realizado com uma taxa igual à cobrada no mercado.
Por se tratar de um empréstimo do Banco Central aos demais bancos, que por sua vez emprestam às pessoas e empresas, uma elevação do redesconto é associada à política monetária expansionista.
Enquanto que sua redução é associada à política monetária restricionista. Já que, através da redução desta taxa, diminui-se a quantidade de moeda disponível em uma economia.
Depósito Compulsório
Portanto, pode ser encarado de certa forma como o oposto do redesconto.
Enquanto o último trata-se de um empréstimo do Banco Central aos bancos, este pode ser encarado como uma taxa que os bancos pagam ao Banco Central.
Neste sentido, o recolhimento pode ser feito em moeda ou em títulos públicos federais.
Assim sendo, quanto maior a taxa de depósito compulsório, menos recursos os bancos possuem para emprestar e, por consequência, menos dinheiro circulará na economia.
Ou seja, o depósito compulsório limita a quantidade de recursos que os bancos podem fornecer.
Por isto, o seu aumento faz parte de uma política monetária contracionista.
Enquanto que a sua redução faz parte de uma política monetária expansionista.
Política Monetária Restritiva
Em uma situação em que o país esteja em um crescimento abundante, porém com a inflação fugindo de seu controle devido ao alto nível de recursos na economia, o governo pode adotar, neste cenário, uma política monetária restritiva a fim de controlar a disponibilidade de moeda (liquidez) na economia.
Em casos como esse, a tendência é que se diminua o consumo, haja vista que se fica mais “caro” consumir devido ao consequente aumento das taxas de juros.
Então, para reduzir a quantidade de moeda disponível economia, o governo pode vender títulos públicos, aumentar o depósito compulsório ou, ainda, ser mais restritivo redesconto, cobrando taxas maiores ou reduzir os prazos, gerando, com isso, uma menor disponibilidade de dinheiro.
Reduzindo dessa forma as compras e, por consequência, a produção industrial e, por fim o PIB daquele ano, ao de uma inflação sob controle.
Há primeira vista, para quem não é da área pode não fazer sentindo uma elevação da taxa de juros e diminuição do PIB.
No entanto, esta é uma medida justificada para manter a inflação sob controle.
A inflação causa alguns efeitos perversos para a economia de um país, entre as quais podemos citar:
- Diminuição do poder de compra
- Redistribuição aleatória da riqueza
- Aumento excessivo do câmbio
- Incerteza econômica
Diminuição do poder de compra
A inflação pode causar uma redução no poder de compra da população, quando os salários não acompanham o índice.
Com uma elevação de preços generalizada, o salário das pessoas poderá comprar menos produtos.
Portanto, mesmo que o salário seja mantido no mesmo valor nominal, diz-se que o salário real se reduz.
Redistribuição aleatória da riqueza
A inflação não atinge todos os agentes da economia de forma igualitária.
Sendo assim, ela acaba por causar uma redistribuição aleatória da riqueza. Isto pode ser perverso para a economia de um país.
Aumento excessivo do câmbio
A inflação pode ser encarada como uma desvalorização do poder de compra da moeda.
Portanto, uma inflação muito alta causa uma apreciação no câmbio, com a tendência de moedas fortes, dispararem de valor.
A Argentina em 2018, por exemplo, em um momento de disparada da inflação, viu o valor do dólar subir demasiadamente.
Isto pode dificultar as importações de um país, pois como elas são pagas geralmente em dólar, os produtos subirão de valor.
Incerteza econômica
Por fim, a inflação em patamares elevados traz um cenário de grande incerteza econômica.
Isto acaba por dificultar o planejamento de empresas, pois há uma baixa visibilidade para realizar investimentos.
Na época da hiperinflação brasileira, por exemplo, várias companhias quebrarem por conta das grandes oscilações na taxa de inflação.
É importante ressaltar que, embora a inflação seja nociva à economia, o seu oposto, a deflação, também é.
Em um cenário de redução de preços as pessoas tendem a postergar o consumo, de forma a comprar sempre mais barato.
Isto, no longo prazo, causa uma redução da demanda que pode estagnar uma economia.
Por isso, alguns governos de países muito desenvolvidos e que apresentam a inflação tendendo a números negativos, utilizam a política monetária expansionista como forma de estimular a economia.
Política Monetária Expansionista
A Política Monetária Expansionista é usada, geralmente, quando a economia se encontra uma situação de recessão, sendo preciso, então, um estímulo para o seu crescimento.
Ela é o contrário da política monetária restritiva, ou seja, visa aumentar a liquidez e a oferta de moeda na economia.
Esse procedimento pode ser feito através da compra de títulos públicos dos bancos (Open Market), pela redução da taxa de depósitos compulsórios ou, ainda, ser mais flexível no redesconto, abaixando as taxas de juros e aumento os prazos de pagamento, por exemplo.
Os resultados dessas medidas, normalmente, são uma maior disponibilidade de recursos na economia, aumentando o consumo, a renda, a produtividade industrial e, por consequência, o PIB daquele ano.
Como dito anteriormente, a política monetária pode ser usada também para conter um cenário de deflação.
Através da redução da taxa de juros, se reduz o estímulo à poupança e aumenta ao consumo, acelerando assim a inflação.
Esta realidade, no entanto, é restrita a países muito desenvolvidos, como o Japão.
Países subdesenvolvidos, como o Brasil, limitam-se a utilizar política expansionista para superar crises econômicas.
É importante ressaltar ainda que, se esta política for mau utilizada, ou for prolongada durante muito tempo, ela pode causar um avanço desmedido da inflação.
Exemplo real do uso de política monetária no Brasil
O Brasil com suas grandes oscilações e volatilidade econômicas torna-se um ambiente propício para a constatação do uso de políticas monetárias.
Tanto é, que em um curto espaço de tempo, o país oscilou entre políticas expansionistas e contracionistas.
Geralmente, em países mais desenvolvidos, a oscilação entre políticas se dá em espaços longos de tempo, não sendo raro um país desenvolvido passar mais de uma década sem grandes alterações na condução da política macroeconômica.
O Brasil, entretanto, entre anos de 2016 de 2018 variou de uma política amplamente contracionista para uma expansionista.
O Brasil passou por uma grande alta da inflação de 2014 até 2016, devido a políticas estimulantes do consumo que já não davam o resultado esperado.
Como vimos, a inflação possui efeitos nocivos sobre uma economia, é uma forma de contê-la é através de uma política monetária contracionista.
Pois bem, assim foi feito no Brasil, e isto pode ser constatado acompanhando a evolução da taxa Selic, que saiu do patamar de 7,25% para chegar no pico de 14,25% em julho de 2015.
Isto para conter a inflação, que ainda chegaria ao pico de 10,70%, um patamar considerado elevado.
A taxa Selic ainda foi mantida no patamar de 14,25% até novembro de 2016, quando a inflação deu sinais de que reduziria.
Pode-se dizer que esta política teve sucesso, visto que a inflação de 2017 ficou abaixo dos 3%, um patamar muito baixo se tratando de Brasil.
O controle da inflação no entanto, como descrito no texto, foi obtido através de uma redução significativa do PIB e uma elevação do desemprego.
A partir do final de 2016 o país deu início a uma política expansionista, com a Selic chegando até o menor patamar da história do país em 2018.
Perguntas e respostas sobre política monetária
Qual é o objetivo da política monetária?
O principal objetivo da política monetária é manter a inflação sob controle. Para isso, o governo baseia-se em um regime de metas de inflação.
Para um determinado ano é fixada uma meta para a inflação, e o Banco Central deve utilizar dos instrumentos de política monetária para cumpri-la.
Há ainda um intervalo de tolerância para a meta. Por exemplo, o Governo pode fixar o centro da meta em 4,5%, com uma tolerância de 1,5% para mais ou para menos.
Sendo assim, se a inflação no ano se situar entre 3% e 6% a meta será considerada cumprida. Isto ocorre para permitir que a absorção de choques de curto prazo na economia, como por exemplo, uma crise externa.
Política monetária é o mesmo que política fiscal?
Não. A política monetária, como vimos, diz respeito ao controle sobre a oferta de moeda.
Já a política fiscal diz respeito ao controle da receita e dos gastos do governos. O governo, assim como os demais agentes econômicos, possui obrigações e fontes de renda.
E é a partir destes dados que se faz a política fiscal.
O Governo arrecada recursos através dos impostos, e os gasta com serviços e pagamento de funcionários.
Obviamente, política monetária e fiscal muitas vezes se cruzam, e é necessário que estejam alinhadas para o sucesso do planejamento macroeconômico de um país.
Quais os efeitos de uma alteração na Selic?
Como vimos, uma Selic em alta costuma ser um sinal de uma política monetária contracionista, e entre seus efeitos podemos citar:
- Redução da inflação
- Aumento do desemprego
- Redução dos investimentos por empresas
- Redução do PIB
Já uma queda na Selic pode ser associada a estes fatores, sendo que no sentindo inverso. Portanto temos que uma redução na taxa básica de juros tende a causar:
- Aumento da inflação
- Aumento do emprego
- Estímulo a novos investimentos
- Crescimento do PIB
No ano de 2018, observou-se uma forte redução da Selic no Brasil. A taxa partiu de seu pico em 14,25% para a mínima histórica de 6,5%.
No entanto, não foram observados os efeitos teóricos da redução dos juros, tais como os citados acima.
Isto pode ser justificado pela grande crise vivida pela economia brasileira anos antes. A recessão causou um grande abalo na confiança da população e dos investidores.
Além disso, a situação de grande déficit fiscal do país, em conjunto com a ausência de medidas que visem conter este déficit, também contribuíram para conter uma retomada mais forte da economia.
Conclusão sobre política monetária
Como pode ser notado, a política monetária exerce um impacto bem direto na vida dos brasileiros e, por conta disso, investidores que possuam uma maior clareza dessa relação, certamente podem apresentar melhores resultados em suas aplicações ao longo do tempo.
É importante, por isso, estar ciente dos principais instrumentos utilizados pela monetária, bem como das diferenças entre uma política expansionista e contracionista.
A política monetária, inclusive, é crucial para se realizar um valuation de ações. Para realizar um valuation é necessário inserir premissas que dependem da política adotada pelas autoridades financeiras, dessa forma, é crucial o conhecimento da política monetária. Para saber mais sobre valuation, veja o vídeo abaixo onde mostramos na prática a avaliação do banco Itaú.