Após o fechamento do mercado na data de ontem (30), a BRF S.A. e a Marfrig Global Foods S.A. anunciaram aos seus respectivos acionistas e ao mercado em geral que iniciaram, entre si, tratativas para avaliar a combinação de negócios entre as duas companhias.
Seus conselhos de administração aprovaram assinatura de Memorando de Entendimentos vinculante entre as duas companhias, estabelecendo regras e condições de acesso a informações que permitam que as companhias se aprofundem nas discussões e nas análises para a viabilidade da implementação da transação, buscando avaliar os efetivos benefícios econômicos que originariam da operação, bem como a estrutura societária mais eficiente a ser adotada.
O memorando prevê um período de exclusividade nas negociações entre ambas as empresas por 90 dias, prorrogáveis por mais 30, durante o qual nenhuma das partes poderá iniciar negociações com terceiros.
A fusão confere à BRF uma presença nos EUA, onde a Marfrig é dona da National Beer, e criará um player capaz de vender aves, bovinos e suínos com escala capaz de gerar sinergias operacionais e no custo da dívida, além de se esperar redução na exposição aos riscos setoriais.
A companhia resultante teria uma diversificação geográfica apresentando relevância no Brasil, Estados Unidos, América Latina, Oriente Médio e Ásia.
Embora a estrutura societária não esteja definida, foi definida uma relação de troca fixada com base no valor de mercado dos últimos 45 dias, não atribuindo prêmio a nenhuma das partes, de modo que os acionistas da BRF terão cerca de 85% da nova empresa, enquanto os da Marfrig ficam com o restante.
Nas negociações, o Citigroup será o assessor financeiro da BRF, enquanto o J.P. Morgan irá assessorar a Marfrig. Projeções iniciais indicam sinergias de R$ 5,5 bilhões na união, criando uma gigante global com faturamento superior a R$ 80 bilhões.
Combinadas, a companhia resultante deverá ter dívida líquida em torno de 3 vezes o EBITDA. Hoje a alavancagem da BRF supera 5 vezes, enquanto a Marfrig está próxima de 2,8 vezes.
As companhias ressaltaram que são premissas da transação que a companhia eventualmente resultante:
- Tenha um elevado nível de governança corporativa, com estabilidade na administração direta e gestão;
- Adote políticas internas e métricas para atingir seu grau de investimento; e
- Seja administrada de forma a atingir excelente reputação no que diz respeito à integridade, qualidade, segurança e sustentabilidade.
É importante dizer que não há qualquer acordo, contrato e/ou documento celebrado, vinculante ou não vinculante. Sendo assim, não existe qualquer garantia de que a transação seja, de fato, concretizada.
Ademais, o fechamento de qualquer transação está condicionado à análise e aprovação das administrações e acionistas de cada parte, incluindo a aprovação do BNDES (acionista da Marfrig), além de aprovações prévias de autoridades governamentais.
No mais, acreditamos que a fusão será capaz de gerar bons frutos. No entanto, ainda é muito cedo para tomar qualquer posicionamento em relação a este case. Individualmente, entendemos que os resultados mais recentes da Marfrig não nos atraem, ao passo que a BRF apresenta alta alavancagem e dificuldades operacionais.
Portanto, no momento, preferimos observar o case estando fora dos papéis.
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