Para um investidor de valor com foco no longo prazo, saber o conceito existente nos principais termos do cenário econômico é muito importante e, neste sentido, o Relatório Focus se enquadra com bastante relevância.
Mesmo assim, muitos agentes do mercado financeiro ainda não possuem conhecimento acerca do Relatório Focus, porém nunca é tarde para se aprender algum novo conceito.
O Relatório Focus, também conhecido como boletim Focus, é um documento que é publicado online e que contém um resumo das expectativas de mercado a respeito de alguns dos mais importantes indicadores de nossa economia.
Esse resumo, em si, é o resultado de uma pesquisa de expectativas de mercado com cerca de 120 bancos, gestores de recursos e outras instituições financeiras.
Essa publicação é tão relevante que é elaborada pelo Departamento de Relacionamento com Investidores e Estudos Especiais (Gerin) do Banco Central do Brasil (Bacen).
Vale mencionar que o relatório é divulgado semanalmente, às segundas-feiras, porém com data de publicação da sexta-feira anterior, através do portal do Bacen.
- Indicadores do Relatório Focus
- IPCA
- IGPM
- Taxa Selic Meta
- Taxa de câmbio
- PIB
- Considerações sobre o Boletim Focus
- Conclusão
Relatório Focus: Indicadores [sta_anchor id=”1″ /]
- IPCA
- IGPM
- Taxa de Câmbio
- Meta Taxa Selic
- Crescimento do PIB
Estas variáveis, cada uma de uma forma, possuem um grande impacto na economia.
Para perceber a importância do relatório Focus, e realizar uma interpretação adequada do mesmo, é necessário saber o que cada variável acima representa.
IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidos Amplo[sta_anchor id=”2″ /]
Calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) através de coletas de dados feitas, normalmente, em estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, além de concessionárias de serviços públicos e também diretamente nos domicílios, o IPCA é a abreviação para Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo e, atualmente, é considerado o índice oficial da inflação no Brasil.
Mas afinal, o que é a inflação?
A inflação representa a taxa com a qual os preços aumentam em uma economia.
O IPCA é apresentado em uma taxa anual, ou dos últimos 12 meses.
Por exemplo, quando se diz que a inflação no ano de 2017 foi de 4% isso quer dizer que, na média, a cesta de consumo da população teve o seu preço apreciado em 4%.
Na prática isto quer dizer que se as famílias possuem um gasto em média de R$ 1 mil este gasto passará a ser de R$ 1,04 mil.
É importante ressaltar que o IPCA é uma média e pode não representar propriamente a inflação de cada indivíduo.
Afinal, as pessoas possuem hábitos de consumo muito diversos entre si.
No entanto, no geral, o IPCA serve como uma boa base para a inflação da maior parte da população.
Diferença entre desinflação e deflação
Muitas pessoas em períodos de queda de inflação fazem o seguido questionamento “Se a inflação está mais baixa como os preços estão mais caros?”.
Este questionamento se dá por uma confusão comumente causada entra desinflação e de deflação.
A desinflação é somente uma queda do índice de inflação. Por exemplo: Se o IPCA cai de 10% para 4% se diz que houve uma desinflação, pois, a inflação perdeu 6 pontos percentuais.
Já a deflação é um fenômeno raro de inflação negativa, neste caso os preços realmente ficam mais baratos.
O que se observa, comumente, são períodos de desinflação e não de deflação.
Períodos de desinflação são períodos em que os preços seguem aumentando, porém, eles aumentam a uma taxa mais baixa.
É muito mais preferível que uma economia tenha uma inflação de, por exemplo, 2%, do que uma inflação de 10%, pois uma inflação mais baixa traz maior estabilidade ao sistema econômico.
Mesmo assim, uma pequena inflação ainda é bem-vinda. Isto ocorre pois assim se cria uma margem de segurança contra a deflação.
A deflação, embora possa parecer boa pois os preços diminuem, é, na realidade, nociva a uma economia.
Isto ocorre pois se os preços estão em constante queda as pessoas tendem a adiar o consumo, e o consumo é a força que move a economia mundial.
Sem o consumo o faturamento das empresas tende a cair, consequentemente o índice de emprego também tende a cair, e isto gera um efeito cascata muito prejudicial para a economia.
Por isso, mesmo as economias mais desenvolvidas, trabalham com uma taxa de inflação meta ao redor de 2%, para conter o risco de uma deflação.
Países menos desenvolvidos, como o Brasil, tendem a ter como meta taxas um pouco mais altas. Por exemplo, no ano de 2018 o centro da meta da inflação brasileira foi de 4,5%.
IGPM – Índice Geral de Preços de Mercado[sta_anchor id=”3″ /]
Calculado mensalmente, este indicador da economia acompanha a inflação do país, que é calculada pela diferença de preços de um determinado conjunto de produtos.
O IGP-M é a sigla para Índice Geral de Preços de Mercado e é definido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O IGPM possui um propósito diferente do IPCA. Enquanto o IPCA foca nos consumidores amplos, ou seja, na população em geral, o IGPM buscar ser o índice de inflação do atacado.
Sendo assim, ele é muito importante para produtores e empresários da economia.
Além disso, o IGPM serve como base para o reajuste de vários contratos firmados.
Tais como contratos de empresas de energias ou contratos de aluguel de imóveis.
O IGPM é composto pela média ponderada de 3 índices de inflação, são eles e seus respectivos pesos no IGPM:
- IPA – 60%
- IPC – 30%
- INCC – 10%
O IPA é o índice de preço do produtor amplo. Justamente por este possuir maior peso no cálculo do IGPM é que esta é considerada a inflação do atacado.
O IPC é índice do consumidor. Este índice é similar ao IPCA é avalia a mudança de preço em uma cesta de bens de famílias que ganham de 1 a 33 salários mínimos.
O INCC é o índice de custo da construção e diz respeito à variação do custo para a construção de habitações.
Taxa de câmbio[sta_anchor id=”4″ /]
A taxa de câmbio é um fator muito importante para a economia.
Principalmente pois ele afeta diretamente as exportações e as importações.
A taxa de câmbio é comumente expressa na forma de moeda nacional por moeda estrangeira.
Como a moeda mais utilizada no mundo é o dólar, o Boletim Focus apresenta a taxa de câmbio na forma de Reais / dólar. Ou seja, quantos reais são necessários para comprar um dólar.
Se a taxa de câmbio for de R$ 3,50 isto signifique que o preço de um dólar equivale a R$ 3,50.
Você pode se perguntar de que forma o preço do dólar afeta o fluxo de exportações e importação. Este é um raciocínio que pode ser observado de maneira intuitiva através de um exemplo.
Antes de tudo é importante ressaltar que o comércio internacional é comumente realizado em dólar.
Imagine, então, que você é importador de smartphones. Você deseja importar o total de 100 smartphonese como estes custam $ 1 mil dólares cada a sua importação será no total de $ 100 mil dólares.
Caso o dólar esteja no valor de R$ 2 o seu custo, em reais, será de R$ 200 mil.
Agora imagine que o Brasil esteja passando por uma crise econômica. Como é comum em períodos de crise, o dólar dispara chegando a R$ 4.
O produtor que vende os smartphones para você ainda deseja receber os mesmos $ 100 mil dólares pela venda, afinal, para ele o valor do dólar não mudou.
No entanto, para você que está importando o produto, o custo agora, em reais, será de R$ 400 mil.
Isto torna as exportações muito caras e até inviáveis em algumas ocasiões. Se você não tiver a capacidade de repassar este custo extra para o consumidor final este aumento do dólar pode representar o fim do seu negócio.
Consequências da taxa de câmbio
Observa-se, portanto, a primeira consequência de uma alta da taxa de câmbio: O desestimulo para as importações.
Um outro efeito da depreciação do câmbio se dá nas exportações. Neste caso o efeito é contrário ao das importações, um aumento do câmbio causa um grande estímulo para as exportações.
Isto ocorre pois imagine que você agora exporta smartphones, e não mais os compra.
Os $ 100 mil dólares recebidos por você, com o dólar a R$ 2, lhe garantem R$ 200 mil.
No entanto, com o dólar valendo R$ 4 você irá obter um ganho de R$ 400 mil vendendo os mesmos 100smartphones.
Ou seja, você estará vendendo a mesma quantidade, mas ganhando muito mais por isso.
Por isso quando o valor do dólar sobe as empresas exportadoras são as principais beneficiadas.
Inclusive este é um fato que pode ser muito bem observado na bolsa de valores.
Quando o dólar está um dia de forte alta, as ações das empresas exportadores tendem a também sofrerem uma valorização expressiva.
Os exemplos citados aqui se dão para uma alta do dólar.
Em caso de queda do dólar os efeitos contrários se observam, ou seja:
- As importações são estimuladas
- As exportações são desestimuladas
Taxa Selic Meta[sta_anchor id=”5″ /]
A taxa Selic Meta é determinada pelo Copom, o comitê de política monetária do Bacen.
A Taxa Selic Meta é muito importante pois serve como referência para todas as demais taxas de juros da economia.
O Bacen, quando deseja reduzir a inflação e desestimular o consumo, eleva a taxa de juros.
Como boa parte do consumo, principalmente o de bens de alto valor, são financiados com taxa de juros, uma elevação desta taxa acaba por reduzir o consumo.
Ainda, uma maior taxa de juros significa que o dinheiro destinado para poupança irá render mais.
Assim, as pessoas tendem a poupar mais e consumir menos, o que causa uma queda da inflação.
Já quando o Banco Central deseja estimular o consumo para aquecer a economia ele reduz a taxa de juros.
Uma taxa de juros menor irá fazer com que as pessoas consumam mais pois o financiamento será muito mais barato.
Além disso, como o dinheiro destinado a poupança irá render menos, as pessoas tendem a ter um maior estímulo para consumir e um menor estímulo para poupar.
A Taxa Selic Meta é importante ainda na avaliação do valor de negócios, o famoso valuation. A Taxa Selic Meta afeta diretamente a taxa de desconto utilizada na avaliação de empresas.
Isto ocorre, pois, muitas empresas para financiar os seus negócios captam dívida. Estas dívidas muitas vezes possuem como indexador a própria taxa Selic ou taxa diretamente relacionadas a ela.
E como o custo da dívida é algo essencial para o sucesso de um empreendimento, a Taxa Selic Meta acaba por afetar estes valuation.
No vídeo abaixo onde é apresentado o valuation a respeito da empresa M Dias Branco é falado um pouco mais sobre a taxa de desconto.
PIB[sta_anchor id=”6″ /]
O PIB é a variável que agrega todos os fatores da economia.
A sigla representa o produto interno bruto, e é a soma de todos os bens produzidos pelo país.
Ele pode ser considerado o termômetro da economia de um país.
O fator do PIB comumente mais enfatizado pelos meios de comunicação é a sua variação.
Esta variação é sempre exposta em termos percentuais, como por exemplo: “O PIB caiu 3% em 2017” ou “O PIB pode subir até 2% em 2018”.
Considerações sobre o relatório Focus [sta_anchor id=”7″ /]
Dessa maneira, a comparação entre as expectativas previstas em uma semana contra semana anterior pode demonstrar a mudança de percepção do mercado quanto ao futuro da economia.
Por que ler o relatório Focus?
Ler o relatório Focus é essencial para auxiliar na tomada de decisão.
Imagine por exemplo que você é um exportador ou um importador, foi visto nos exemplos acima que a taxa de câmbio possui um imenso poder sobre o seu resultado final.
Portanto, quando tomando decisões de quanto ou quando exportar ou importar, é relevante ter a opinião de especialista e profissionais do mercado.
E esta opinião pode ser obtida de graça e acessada muito facilmente se utilizando do portal do Bacen.
As informações presentes no Boletim Focus são tão importantes que até o COPOM o utiliza para a definição da taxa Selic Meta.
O relatório ainda é importante para a tomada de decisão de investidores.
Pois as variáveis apresentadas no Boletim afetam diretamente os investimentos.
Por exemplo: Um crescimento do PIB tende a levar a uma alta do Ibovespa, enquanto que a alta do dólar tende a favorecer as empresas exportadoras.
Top 5 – Boletim Focus
Existe, ainda no Relatório Focus, uma tabela definida como Top 5 que relata as previsões das cinco instituições que mais acertaram as previsões no passado, o que tende a repassar uma maior credibilidade para o usuário das informações no âmbito de sua leitura e interpretação.